Exemplar do período colonial brasileiro seu estado de conservação começou a degradar-se ao ponto que sua ocupação foi interditada em julho de 2013. A partir dessa data a família que residia no local, Sr. Antônio João e D. Marlene, ela descendente do Sr. Negrinho, o patriarca da família que se estabelecera ali desde 1920, teve que se mudar passando a aguardar sem sucesso, da instituição federal assim como do Governo do Estado, recursos para sua restauração.
Em 2019, o Jornal do Commercio denunciava que a edificação encontrava-se abandonada e entregue aos morcegos. Tudo fazia crer que a Casa Grande iria transformar-se em ruínas, enterrando uma parte significativa da História do município e da região.
Conforme depoimento de um dos netos do casal, o comerciante Mareval Silva Nascimento, ao Correio do Agreste, depois de esperar mais de 35 anos por algum apoio financeiro para a recuperação dessa casa, os herdeiros do Sr. Antônio Paulino da Silva Negrinho e de D. Adelina Anunciação Silva, movidos também pela importância afetiva do imóvel para a família, resolveram levar à frente essa obra. Tiveram, entretanto durante dois anos, de enfrentar um intricado e moroso nó burocrático do SPHAN com exigências nas áreas de engenharia e arquitetura, mas finalmente conseguiram iniciar os trabalhos na primeira semana de outubro de 2020.
Hoje, em fase de conclusão, faltam apenas a pintura das madeiras e o piso das salas a serem feitos com cedro, que deverá vir do Pará, onde neste momento se encontra uma pessoa ligada à família para a aquisição da madeira.
Tudo indica que nos próximos meses D. Marlene e o Sr. Antônio João retornarão à sua casa e no final do ano a Festa de Santa Luzia, a mais antiga e tradicional do município, iniciada em 1904, promete ser a mais animada de todos os tempos.
Resumo Histórico
O caminho mais antigo da capitania de Pernambuco, que seguia do litoral ao sertão margeando inicialmente o rio Capibaribe, data de 1738. Entretanto, há registros de concessão de sesmarias na área onde fica atualmente o Agreste Setentrional pernambucano anterior a essa data, desde 1689 a 1727, correspondendo a 33 léguas quadradas. Nelas, tinha-se esse rio e seus afluentes como referência.
A sesmaria que se concedeu a Manoel Luiz Coutinho e Antônio Fernandes Coutinho, por exemplo, e que deveria abranger o atual núcleo urbano de Surubim datava de 1709. Não se encontram, no entanto, registros de concessões dessas datas de terras a algum sesmeiro na área onde se encontra a fazenda Cachoeira do Taépe. Daí o depoimento do Sr. José Mimoso quando se refere ao português José Travassos dizendo ter ele recebido uma sesmaria em 1665, nesse local, e construído a Casa Grande dessa fazenda, não se confirma documentalmente.
Sua origem, entre tantas versões, algumas até fantasiosas, como a que alega ter sido construída pelos holandeses, está envolta em certo mistério. No entanto, muitas delas sustentam-se em hipóteses bem fundamentadas. Sua conformação arquitetônica é nitidamente portuguesa e sua edificação é provável que remonte ao período da expansão da cotonicultura no sentido do Agreste, quando se intensificaram as demandas do algodão, sobretudo pela Inglaterra, entre os séculos XVIII e XIX.
Por outro lado a Fundação de Desenvolvimento Municipal do Interior de Pernambuco – FIAM, levando em consideração características marcantes dessa casa como as trincheiras nas portas, por exemplo, confirma a sua real antiguidade sinalizando para o início do século XVIII a sua edificação.
Trata-se, portanto, de um exemplar arquitetônico preservado fora do espaço destinado à cultura da cana de açúcar, inserido numa região que se destinou inicialmente ao criatório bovino e, em seguida, ao plantio algodoeiro. “É uma edificação totalmente inédita e desconhecida” (FIAM) com características muito singulares como as salas destinadas ao verão e ao inverno. Considerada uma valiosa edificação rural é um testemunho da abertura de outros espaços além da zona canavieira, ampliando as fronteiras agrícolas de Pernambuco no sentido da zona do Agreste.
Reconhecendo essa importância, em janeiro de 1980 a Casa-Grande da Fazenda Cachoeira do Taépe foi tombada pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – Fundarpe e no mesmo mês do ano seguinte, o tombamento deu-se nacionalmente pela Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN.
Toinho Negrinho, um dos herdeiros da Casa-Grande, questionando os benefícios advindos desses tombamentos, em 1993, portanto 13 anos depois, desabafou em depoimento transcrito no livro Surubim Pela Boca do Povo de Mariza de Surubim. Disse ele que “até hoje nada fizeram para a sua restauração. Nós já fizemos o possível e gastamos muito dinheiro, nós sozinhos não podemos realizar o trabalho. Tem que juntar os organismos competentes e os herdeiros para encontrarmos uma solução”.
Hoje, já falecido, Toinho Negrinho não será esquecido, porquanto, a Casa-Grande da Fazenda Cachoeira do Taépe encontra-se quase inteiramente restaurada, obedecendo as suas prescrições.
As obras de restauração foram todas custeadas pela família dos herdeiros do Sr. Negrinho, cabendo uma cota para cada um dos seus 8 filhos ainda vivos. Quanto aos outros dois já falecidos, foram os netos que se cotizaram. Atenderam todas as exigências do IPHAN que praticamente em nada ajudou na recuperação do imóvel atendo-se tão somente à fiscalização e cumprimento da fidelidade à origem da edificação.
Do Correio do Agreste / (Foto: Reprodução/ Divulgação)