Em 1º de julho de 1994, o Brasil amanheceu diferente. E nem era tanto por causa da Copa do Mundo que rolava nos Estados Unidos, onde seríamos tetracampeões. Naquela manhã de sexta-feira, passamos a conviver com beija-flores, tartarugas, garças, araras, micos-leões, onças e garoupas. Era a estreia da nossa nova moeda, o real. Ela recebeu o mesmo nome do plano econômico que tinha começado a ser colocado em prática no ano anterior.
Duas décadas do plano que matou a hiperinflação.Foto: Crédito: Carlos Silva/CB/D.A Press
No início houve desconfiança, claro. Afinal de contas, o brasileiro estava mais do que vacinado contra aqueles planos mirabolantes que prometiam mundos e fundos e naufragavam poucos meses depois (Cruzado, Bresser, Verão, Collor). Mas não é que o Real deu certo? O país finalmente iniciou um período duradouro de estabilidade econômica e controle da hiperinflação.
Tá certo que o IPCA – o índice oficial da inflação – deste ano deve fechar pertinho do teto da meta (6,5%) estabelecida pelo Banco Central. Mas vamos combinar que isso não é nada perto do que acontecia antes. Em 1993, por exemplo, a inflação do país fechou em incríveis 2.708%. O economista Luiz Maia, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, destaca que o controle da inflação virou um patrimônio preciso do brasileiro.
Não dá para pensar em viver com hiperinflação de novo. Luiz Maia também lembra que, depois que o dragão deixou de cuspir fogo, conseguimos colocar no nosso dicionário uma palavra que quase não aparecia antes: planejamento. O brasileiro não precisava mais sair correndo feito louco para fazer a feira antes de o salário perder o poder de compra em questão de dias. As famigeradas máquinas de remarcação de preços foram aposentadas (ufa!).
Novos símbolos surgiram: frango, iogurte, dentadura. O brasileiro começou a comprar com gosto produtos importados e a viajar para o exterior, graças principalmente à paridade com o dólar nos primeiros anos (depois o câmbio passou a ser flutuante). O tempo passou, atravessamos crises internacionais. Quando o governo mudou de partido, houve receio de que tudo voltaria a ser como antes.
Não voltou. Evoluímos. Surgiram programas sociais como o Bolsa Família. O salário mínimo deixou de ser tão mínimo. A quantidade de pessoas com curso superior aumentou. Nesses “anos reais”, os consumidores passaram a conviver com mais crédito no mercado. Para comprar casa, carro, trocar os móveis e eletrodomésticos. Uns se empolgaram demais e passaram a conviver com o endividamento. Outros se adequaram à realidade.
Depois de 20 anos do Plano Real, ainda estamos longe de viver num mundo perfeito. Há problemas e há o que ajustar. Mas mesmo com pibinhos e inflação beirando o teto da meta, vivemos num país melhor. Que siga melhorando. Sempre.
Tatiana Nascimento / Blog Economia - Diário de Pernambuco