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A recomposição do mercado de trabalho vai depender dos rumos da política econômica que deverá ser implementada nos próximos meses, com a conclusão do processo de impeachment. Na avaliação de especialistas e lideranças sindicais, a possibilidade de um governo Michel Temer é motivo de preocupação. O atual vice-presidente e principal beneficiário do impedimento de Dilma Rousseff já sinalizou que vai realizar cortes na máquina pública e colocar em prática as reformas trabalhista e da previdência. A expectativa é avançar nas discussões sobre terceirização e mudanças na CLT.
“Vejo com temor e dúvida as reformas propostas por um governo Temer, se ele existir. Precisa existir um pacto pelo Brasil para que os empresários voltem a investir, as contratações sejam retomadas e o trabalhador volte a produzir. Ninguém suporta mais redução de benefícios. As conquistas precisam ser aprofundadas. O próprio governo Dilma suprimiu direitos. O principal deles foi a mudança no Seguro-Desemprego”, diz o presidente da Força Sindical em Pernambuco, Rinaldo Júnior.
A coordenadora do Grupo de Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia da PUC-São Paulo, Anita Kon, acredita que o início de um possível governo Temer não será tranquilo para o mercado de trabalho. “Num primeiro momento, a tendência é que o desemprego continue aumentando, porque deverá ser adotada uma política de contenção de gastos públicos. Mas não devemos ser excessivamente pessimistas. A perspectiva não é positiva no curto prazo, mas é preciso dar uma esperança às pessoas e acreditar que os ajustes serão feitos e a economia vai voltar a crescer”, pondera.
Na avaliação da coordenadora-geral do Sindicato dos Servidores Públicos Federais em Pernambuco (Sindsep), Graça Oliveira, a proposta de Michel Temer, intitulada “Ponte para o futuro” não será um avanço. “O projeto está mais para ponte do atraso. É parecido com o que o ex-presidente FHC fez nos anos 90, com austeridade excessiva, que não melhora as condições do trabalhador. Vamos seguir o caminho de países como a Espanha, que tem taxa de desemprego na casa dos 20%”, afirma.
Para a economia, a manutenção de altas taxas de desemprego por muito tempo é devastadora. A desocupação reduz o consumo, aumenta a inadimplência, motiva a informalidade e contribui para aprofundar a recessão. A preocupação de quem perdeu o emprego é com o tempo que vai demorar a retornar ao mercado. “Outro problema é a precarização do trabalho, com pessoas que estavam num patamar salarial maior sem condição de encontrar outra vaga com as mesmas condições. A exceção é um profissional muito específico, que o mercado tem dificuldade em substituir por falta de disponibilidade”, observa Anita.
Do JC Online