Número de desalento cresce em PernambucoFoto: Alfeu Tavares / Folha de Pernambuco |
O cozinheiro João Carlos Neto tem 54 anos e há dois está sem conseguir uma colocação no mercado de trabalho formal. Nesse meio tempo, inclusive, tentou trabalhar por conta própria fazendo jantar em domicílio, mas a dura crise econômica que atinge o Brasil há quase quatro anos minou os seus planos, assim como o seu ânimo em conseguir retornar ao mercado de trabalho. “Não vejo uma luz no fim do túnel para essa situação que o País enfrenta, por isso, desisti de procurar emprego”, desabafa o cozinheiro.
Situação semelhante vive o mecânico industrial Rodrigo Carneiro da Silva, 34 anos, que está também há dois anos sem trabalhar. “Em todo esse tempo que passei sem trabalhar, procurei tanto que agora só me resta esperar. Hoje não vou mais em busca de emprego, mas se surgir, com certeza ficarei muito feliz em trabalhar”, revela. Histórias como a de João e Rodrigo se somam a dos 284 mil pernambucanos, que estavam há tanto tempo procurando sem encontrar um trabalho, que simplesmente desistiram e se juntam aos cerca de 710 mil desocupados em Pernambuco, o terceiro estado com a maior taxa de desocupados do País - 16,9%.
Em todo o Brasil, a situação é ainda pior. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua trimestral, divulgada ontem, justamente no primeiro dia oficial de início da campanha para corrida eleitoral deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no segundo trimestre encerrado em junho deste ano, mostra mais esse desafio que tanto o próximo presidente do País quanto o gestor estadual terão que vencer a partir do próximo ano - oferecer condições para que nada menos que 4,8 milhões de brasileiros deixem de se enquadrar no status de desalento, quando sem esperanças, desistem até de procurar um emprego.
Traçando um panorama antes e após a crise, é possível observar que o quanto o número de desempregados está associado ao aumento do número do desalento ao longo dos anos. De acordo com dados da Pnad Contínua, no 2° trimestre de 2014, 24,5% da população estava procurando trabalho. Hoje, quatro anos após, esse percentual é de 35,5%. Para o coordenador de trabalho e renda do IBGE, Cimar Azeredo, esse aumento da taxa de desocupação está diretamente ligada ao aumento do número do desalento no País e em Pernambuco.
Segundo ele, em 2014, antes do início da crise, o contingente de desalentos no Estado era composto por 88 mil pessoas. Hoje, esse número é de 284 mil pessoas. “Estamos falando de um aumento de 323% em quatro anos no número de desalentos no Estado que está totalmente associado ao aumento do percentual de desocupados. Afinal, tem gene há tanto tempo na fila esperando por uma colocação, que uma hora essa pessoa vai cansar e sair dessa fila”, analisa o coordenador.
Embora o número do desalento em Pernambuco seja ainda muito grande, o Estado tem a menor taxa de desalento quanto comparada às unidades federativas que compõem o Nordeste, o que, de acordo com o economista da Fecomércio, Rafael Ramos, não minimiza a gravidade do problema. “São pessoas que demoraram tanto a conseguir uma vaga que desistiram de buscar emprego e isso reflete em inadimplência e confiança também. São pessoas que precisam de mais qualificação para aumentar as chances de voltar ao mercado, mas sem renda própria e sem oportunidade, dificilmente elas conseguem”, afirma Ramos.
Para ele, o caminho para resolver a situação é apenas um: “A economia melhorar e crescer puxada por indústria e serviços, porque geram empregos mais sólidos. Isto, claro, somado a políticas públicas voltadas às pessoas desalentadas visando sua qualificação para desta forma, tornar mais fácil a inserção quando a economia voltar a crescer de fato”, conclui.
Da Folha de PE