domingo, 26 de agosto de 2018

Produção leiteira cada vez mais escassa em Pernambuco

Bacia leiteiraFoto: Divulgação
Cenário que ainda persiste em Pernambuco, a seca castiga a bacia leiteira no Estado. Ao longo dos seis anos de longa estiagem, a produção de leite caiu cerca de 31% e a redução do rebanho bovino foi de aproximadamente 18%. Apesar das chuvas animarem os produtores no início do ano, a perspectiva de melhora não se concretizou. Isso porque o período chuvoso só foi até o mês de abril, não persistiu em maio, junho e julho. Hoje, produtores enfrentam uma realidade com o preço do leite barato e alto custo da matéria-prima para o gado.

Fonte de desenvolvimento econômico para Pernambuco, a produção de leite tem sua maior presença no Agreste Meridional, nos municípios de Garanhuns, Canhotinho, Bom Conselho, Buíque, Pedra, Venturosa, Tupanatinga e Águas Belas. “A dificuldade tem sido grande, as pastagens estão secas e algumas cidades estão utilizando o carro-pipa. Atualmente, enfrentamos o custo alto da matéria-prima para o rebanho, como milho, soja e algodão, e o preço do leite não acompanhou o custo da produção”, explicou o presidente da Sociedade Nordestina dos Criadores (SNC), Emanuel Rocha.

A produção do leite ao longo dos seis anos passou de 2,2 milhões de litros por dia para 1,5 milhão de litros por dia, uma queda de 700 mil litros por dia. “Há um sofrimento muito grande dos produtores devido à estiagem, teve falta de alimentos e gado transferido para outras regiões, como o estado do Maranhão”, disse o presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Pernambuco (SindiLeite), Alex Costa, ao complementar a necessidade da ação de transferência do rebanho. “O alimento para o animal ficou muito caro, ficou inviável alimentar o rebanho para tirar o leite. E na hora da venda, o leite é barato, então foi preciso agir dessa forma”, explicou Costa.

No número do rebanho bovino em Pernambuco, houve redução de 400 mil cabeças. Antes da seca, eram 2,2 milhões de cabeça de gado e hoje é 1,8 milhão. “A pecuária do Semiárido foi a área mais afetada. Com seis anos de seca, o cenário não poderia permanecer inalterado. Houve redução da economia da região, o que é a receita para a população”, lamentou o presidente da Federação da Agricultura do Estado de Pernambuco (Faepe), Pio Guerra.

Com aproximadamente 60 municípios pernambucanos em situação de emergência, produtores aguardam as chuvas. No entanto, as previsões não são animadoras. É possível que o Nordeste enfrente dificuldades com novas estiagens no próximo ano. “Existe um cenário para mais um fenômeno El Niño a partir de novembro deste ano. O fenômeno, que vem sendo alterado pelo aquecimento global, provoca seca. Estudos apontam 70% de probabilidade que ocorra o evento, com seu ápice em janeiro e fevereiro”, explicou a coordenadora técnica do Laboratório de Mudanças Climáticas do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), Francis Lacerda, ao complementar que não há perspectiva de chuvas significativas para as regiões do Agreste e Sertão ainda este ano.

Por isso, o Governo de Pernambuco tem buscado investimento para sustentar os produtores das áreas que mais estão sensíveis. “A bacia leiteira sofre grande impacto com a estiagem prolongada, então priorizamos ações fortes com a questão da água. Estamos concluindo a construção de 300 barragens de pequeno porte na região do Semiárido. São 18 frentes de serviços trabalhando na área para beneficiar a produção no Agreste e Sertão do Estado”, afirmou o secretário de Agricultura e Reforma Agrária de Pernambuco, Wellington Batista, ao informar que será um suporte importante. “Será essencial para enfrentar períodos prolongados de estiagem, é uma das medidas para conviver com a seca”, disse o secretário. Até junho, já foram concluídas 230 barragens.

Segundo Rocha, muitos produtores deixaram a atividade ao longo dos anos pelo custo em se manter. No entanto, estudos estão sendo feitos para retomar o crescimento. “Através da inseminação no gado por meio de técnicas inovadoras, está sendo possível a recuperação aos poucos do rebanho. Isso é o que tem nos ajudado, já que depois de anos de seca ininterrupta, a chuva ainda não chegou o suficiente”, disse o presidente da SNC.

Nesse contexto, a meta do setor é equilibrar a oferta e procura pelo produto para que seja possível a recuperação. “A meta é exatamente aumentar a produção em Pernambuco através do melhoramento genético e trazer novos animais. É importante trazer animais mais resistentes ao nosso ambiente, como o gado de Minas Gerais”, disse Costa, ao complementar que instituições, como o IPA e a SNC, estão nesse objetivo. “É preciso investir em estudos de melhoramento genético para melhorar a importação do sêmen de animais, importação de embriões e de animais com boa genética. Assim, será possível alcançar melhores resultados em um futuro próximo”, finalizou o presidente do SindiLeite.

Da Folha de PE