domingo, 17 de março de 2019

Joaquim Levy sofre pressão por devolução de R$ 100 bilhões

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Como ministro de Dilma, Joaquim Levy tentou emplacar austeridade numa administração que gastava o que não tinha. Tentou tanto que caiu. O plano malogrado incluía cobrar do BNDES dinheiro de volta. Para os petistas, Levy era liberal demais. Agora, à frente do banco num governo que tem Paulo Guedes como czar da economia, Levy parece, para muitos na gestão Bolsonaro, liberal de menos. Parte da equipe econômica reclama, sob reserva, que Levy parece não querer mandar tanto dinheiro de volta assim. 



Nem Guedes disfarça. "Não sei se ele quer, mas vai ter de devolver", disse ao jornal O Estado de S. Paulo em sua primeira entrevista exclusiva à imprensa nacional, reafirmando ali que espera ver a remessa ao Tesouro de ao menos R$ 50 bilhões até junho. Levy havia dito dias antes que ainda era "cedo" para dizer o quanto o banco devolveria.

Com a declaração, o chefe da Economia do governo Jair Bolsonaro tornava público um embate já em curso no ministério. Após a declaração de Levy de que o valor da devolução não estava definida, Guedes autorizara o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues Júnior, a redigir ofício, exigindo R$ 100 bilhões até o fim do ano.

A previsão era que o banco estatal pagasse R$ 26,6 bilhões em 2019, de acordo com cronograma definido durante o governo Temer - desde 2015, já foram devolvidos mais de R$ 300 bilhões. Mas Guedes quer mais. "Despedalar" o BNDES, como gosta de repetir o ministro, foi assunto na campanha e se tornou meta de governo.

A medida, que reduz o tamanho do banco, se encaixa no plano liberal de Guedes e contribui para baixar a dívida pública federal. Também cai muito bem na turma bolsonarista, que vê no BNDES um símbolo da era petista. Para esse grupo, o banco estatal que emprestou bilhões à Venezuela, a Cuba e a empreiteiras como a Odebrecht precisa quitar o quanto antes sua conta com a União. 

Ciente do apelo do banco para sua base, no Palácio do Planalto, uma das primeiras promessas de Bolsonaro foi abrir a "caixa preta do BNDES". Por ora, o esforço limitou-se à reedição de uma lista já conhecida de maiores devedores. Mas causou barulho nas redes sociais. 

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