Em relação aos tipos de dívidas, as do cartão de créditos chegam a 94,7%. Foto: Marcos Santos/USP Imagens/Divulgação |
O percentual de endividados em Pernambuco cresceu entre agosto e setembro, passando de 69,8% para 70,9%, somando 362.763 famílias endividadas. Porém, é no comparativo com o mesmo mês do ano passado que a alta se mostra mais relevante, já que em setembro de 2018 o número era de 62,5%, totalizando um aumento de 44.892 famílias nesta situação de um ano para o outro. O principal tipo de dívida é do cartão de crédito, que chega a 94,7%, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O desempenho negativo no estado se dá, principalmente, por conta do mercado de trabalho, com taxa alta de desemprego, redução da renda e consumo em bens que não são essenciais.
Segundo Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE, o mercado de trabalho justifica esse aumento significativo no endividamento, já que Pernambuco tem uma das maiores taxas de desemprego do Brasil - a terceira maior do segundo trimestre, em 16%. A questão é que as pessoas continuam consumindo mesmo sem ter condições de quitar as dívidas, já que a renda familiar caiu. "Houve um período de crescimento do bem-estar e as pessoas criaram um hábito da época em que tinham emprego e renda e conseguiam pagar as dívidas. E é difícil hoje voltar a um patamar que tinha antes do crescimento econômico, continua financiando o padrão de vida", explica.
O cartão de crédito serve como plataforma de extensão da renda e, consequentemente, das dívidas. "É uma dívida atrelada ao consumo e nem sempre o consumo de bens essenciais. E a dívida do cartão de crédito é uma das mais caras porque os juros são altos. É uma dívida fácil de ter um crescimento exponencial. Por isso as pessoas carecem de educação financeira. Elas usam o cartão de crédito como extensão da renda, acreditam que a renda é de R$ 2 mil do salário e mais R$ 2 mil do limite do cartão, por exemplo. Então precisa de uma educação para mostrar que tem que ter controle do consumo dos bens não essenciais", explica o economista.
Consumo
A liberação do saque do FGTS, limitado a R$ 500 por cada conta, também serviu como impulso no consumo, além de datas comemorativas que geram uma perspectiva de não melhora do endividamento nos próximos três meses. "As pessoas deveriam usar o saldo do FGTS para controlar ou sanar dívidas, se possível, para mais na frente voltar a consumir de maneira mais centrada. Mas a maioria das pessoas não tem essa educação e 90% vão usar para consumo. E tem o Dia das Crianças em outubro, a Black Friday em novembro e Natal em dezembro. O nível de consumo vai continuar elevado e a estimativa é que a taxa de endividamento suba até 2020", ressalta Rafael Ramos.
E todo início de ano é um momento de acúmulo de contas, com IPTU, IPVA, matrícula e material escolar, para citar algumas. "Isso tudo se torna um ciclo se não controlar o orçamento, a família fica dependente de puxar recursos que não estão lá todos os meses, como o cartão de crédito", analisa. E a perspectiva é que o cenário ainda demore para se tornar mais positivo em Pernambuco. "O desemprego no estado é uma das maiores taxas e é provável que aqui demore ainda mais para melhorar porque nosso mercado de trabalho está deteriorado. Mesmo com uma melhora puxada pelo mercado informal, acaba que a pessoa não tem direito trabalhista que dê estabilidade, como multa recisória, FGTS e seguro desemprego. Então as pessoas continuam consumindo e, quando são desligadas, não têm como amenizar a dívida, a renda está mais comprometida", conclui.
Do Diario de PE