Número de desbancarizados cresce no BrasilFoto: Léo Malafaia/Folha de Pernambuco |
Se engana quem pensa que o uso de dinheiro em espécie está em queda. Hoje, R$ 820 bilhões já são movimentados por pessoas que preferem receber os valores em mãos, comprar fiado e negociar descontos em vez de ter uma conta em banco
No Brasil, 45 milhões de pessoas não possuem conta em bancos e movimentam R$ 820 bilhões com dinheiro em espécie, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva. De acordo com o recorte, essas pessoas são habituadas a receber o dinheiro em mãos, comprar fiado e negociar descontos, representando uma fatia da população que olha os bancos como lugares inacessíveis.
Gente como a doméstica Maria José de Oliveira, que por não ter uma conta bancária, recebe em dinheiro e assim movimenta o que ganha. Para ela, ter banco não condiz com sua realidade financeira. “Eu sou uma pessoa muito humilde e devido a isso, se eu for ter conta em algum banco eu não vou poder juntar muito dinheiro para comprar algo que eu precise. O dinheiro em espécie me ajuda a movimentar melhor o que recebo”, revela dona Maria. Ela afirma, contudo, que nem sempre foi assim. “As vezes ter uma conta pode até ser melhor, para fazer uma poupança. Uma vez eu tentei, mas desisti, pois me senti muito mais confortável recebendo em espécie”, disse Maria.
De acordo com o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, quem prefere pagar em dinheiro tem menos necessidade de ser bancarizado. “Nossa pesquisa mostra que 29% dos desbancarizados dizem que não ter conta em banco porque preferem usar dinheiro em espécie. Essa preferência se explica principalmente por dois fatores: a possibilidade de barganhar descontos e o fato de que, com dinheiro vivo, fica mais fácil controlar os gastos do mês, porque as pessoas saem de casa com tudo contado”, explica Meirelles.
No entanto, ele admite que outros fatores ajudam a explicar o comportamento. “Por exemplo, muitos desbancarizados dizem não ter conta bancária por não ter dinheiro suficiente para movimentar ou por problemas passados com os serviços bancários. Isso se revela no fato de que 28 milhões de desbancarizados (62%) sequer têm intenção de abrir uma conta bancária no futuro”, completa o especialista.
Na visão do consultor econômico-financeiro, Tiago Monteiro, além da preferência por movimentar o dinheiro em espécie, entre os desbancarizados estão os que já possuíram conta bancária, mas deixaram o serviço. “As pessoas que já têm um conhecimento de bancos e quando saem optam pela desbancarização, fazem um movimento para as fintechs, instituições onde o dinheiro não é cobrado, ou se transferir para os bancos de investimentos, porque a população entende que o banco tradicional é caro”, conta Tiago.
O consultor coloca a dificuldade no acesso ao crédito como uma grande desvantagem de não ser cliente de um banco tradicional. “O lado negativo é que as pessoas sem conta em banco que não estão inseridas no mercado formal, não têm crédito por não ter movimentação, eles precisam juntar uma quantidade grande de dinheiro em um lapso de tempo grande para comprar algo mais caro”, atesta Monteiro. Continue lendo, clique AQUI!