domingo, 29 de dezembro de 2019

Ano de 2019 foi marcado pelo crescimento a passos lentos

Tania Bacelar - economistaFoto: José Britto

No fim de 2018, motivado pela mudança na liderança do executivo brasileiro, as previsões para a economia brasileira eram mais que positivas. Naquele tempo, estimava-se um Produto Interno Bruto (PIB) com crescimento entre 2,5% e 3%, motivado, em grande parte, pela agenda liberal e reformista proposta pela equipe econômica do governo recém-eleito, liderada por Paulo Guedes. Hoje, preste a darmos adeus a 2019, qual seria o balanço do ano? Com apenas uma reforma aprovada, leia-se a da Previdência, e várias revisões ao longo do ano para o crescimento da economia, o Banco Central estima fechar o ano com alta do PIB de 1,16% em relação ao ano passado.

Crescimento produtivo a passo lento à parte, do ponto de vista do consumo, este ano que se finda foi de estímulo à retomada do consumo. É que, com 11,9 milhões de desempregados e com os que têm emprego com medo de perder, a última ação que essas pessoas podem fazer é ir às compras, não é? Dito isto, a liberação do Saque Imediato do FGTS, associado ao pagamento do PIS/Pasep, deu o fôlego para que as famílias pudessem tirar o pé do freio e voltassem a consumir. Além disso, chegamos ao fim do ano com a menor taxa de juros da história, 4,5% e com uma inflação de 3,98%. O setor de comércio e serviço, que amargou um primeiro semestre de fraco desempenho, voltou a respirar aliviado. Prova disso é que pode-se dizer que 2019 foi o ano com o melhor Natal dos últimos cinco anos.

“A maioria das datas importantes para o calendário de consumo do primeiro semestre apresentou variação pequena, o que pode ser justificado pela demora na aprovação de reformas importantes, além da falta de políticas ligadas ao incentivo do consumo nos seis primeiros meses do ano”, analisa o economista da Fecomércio em Pernambuco, Rafael Ramos.



Com um semestre praticamente perdido, alguns arriscam dizer que por mais que haja um sentimento de frustação pelas metas projetadas no ano passado não terem sido cumpridas, a semente do desenvolvimento foi plantada nesta ano. “Considero 2019 como um ano de transição. Ele foi mais promissor em termos de perspectivas econômicas, até mesmo porque estamos terminando o ano com a reforma da Previdência aprovada e com o começo das discussões sobre a tributária. Além de conseguirmos colocar a Selic em seu patamar mais baixo da história”, explica o mestre em Economia, Tiago Monteiro.

Para o consultor da TGI, Francisco Cunha, o Brasil de hoje pode ser visto dividido em dois cenários: o do “copo meio cheio” e o do “copo meio vazio”. No primeiro, estariam enquadrados avanços, como a queda da inflação, juros mais baixos, reforma da Previdência e maior articulação internacional, incluindo a aproximação do governo Bolsonaro com a China. No “copo meio vazio”, Cunha destaca justamente a recuperação econômica, a qual ele denomina de “acanhada”. “Isto é resultado da brutal recessão que o País enfrentou em 2015 e 2016 e do cenário de crise fiscal sistêmica (União, estados e municípios) que traz sérias consequências para a capacidade de investimento do setor público, elevando desigualdades sociais”, analisa o consultor.

Em sua análise anual, a Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento confirmou que a atividade econômica no Brasil foi de ritmo lento, embora tenha melhorado no terceiro trimestre, em um cenário marcado pelo setor de serviços à frente da reação da economia. “O bom desempenho foi puxado pelos serviços, que registraram recuperação de 1,1% no acumulado de janeiro a setembro. Na ponta, o consumo das famílias cresceu 1,8% neste mesmo período, mas num contexto ainda de baixo dinamismo da economia e de elevado desemprego“, detalha Jorge Jatobá, que afirma ser o desemprego sua maior preocupação.

“Os indicadores do mercado de trabalho, por sua vez, demonstram uma queda lenta do desemprego, mas com uma característica preocupante: a precarização crescente da ocupação. Puxada pelo trabalho precário e informalidade, a ocupação se expandiu em 1,5 milhão de pessoas, de 92,6 milhões de trabalhadores para 94,1, milhões entre outubro de 2018 e o mesmo mês de 2019”, acrescenta Jatobá. Enquanto isso, vagas formais cresceram apenas 1,6%, ou seja 516 mil pessoas tiveram a carteira assinada em um ano.

Previsões econômicas para 2020 são otimistas

Embora 2019 não tenha tido um resultado tão positivo quanto o projetado no fim do ano passado, ao olhar para frente, o cenário macroeconômico para 2020 é de otimismo. Afinal, a estimativa é que o PIB cresça em torno de 2,5%, que a taxa de juros se mantenha no patamar mínimo histórico (4,5%) e que inflação gire em torno de 3,60%, bem abaixo da meta estabelecida pelo BC para o ano, fixada em 4%. Com relação ao dólar, que neste ano que se finda atingiu sua máxima nominal histórica, passando dos R$ 4,20, a previsão é que a moeda americana se mantenha na faixa dos R$ 4.

“A soma do PIB desses últimos três anos sequer dá um ano de crise econômica, quando fechamos em -3,6% e -3,8%, 2015 e 2016, respectivamente. Então, os indicadores para 2020 baseados neste último trimestre de 2019, tanto do PIB, juros e inflação faz com que as perspectivas para o próximo ano sejam muito positivas”, analisa Tiago Monteiro. Ainda segundo o mestre em economia, associado a esses indicadores, o risco do País está em um dos patamares mais baixos desde 2010 e a agência de risco classificou o Brasil com perspectiva positiva, o que significa que dentro de no máximo dois anos o País possa recuperar o selo de bom pagador.

Se do lado macro as projeções são bem positivas, no da criação de postos formais de trabalho, o cenário dificilmente se manterá em alta. “O desemprego deve apresentar uma ligeira redução, graças ao melhor desempenho do PIB, porém, sem nenhuma redução significativa, pois o crescimento do País não será, também, muito significativo”, acredita o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Agostinho Celso Pascalicchio.

De acordo com projeção da Ceplan, embora a política econômica liberal do governo Bolsonaro continuará a ser bem recebida pelo mercado, o PIB de até 2,5% e a manutenção da queda no desemprego, inflação e juros dependem da melhoria dos fundamentos macroeconômicos, do avanço das reformas e de que o Governo não crie as instabilidades políticas que marcaram 2019. “A corrosão do apoio no Legislativo é um entrave para a aprovação das reformas em tramitação. Outro problema é a ausência de uma política de desenvolvimento para definir os objetivos do país para o curto, médio e longo prazos e as estratégias para atingi-los”, afirma Tânia Bacelar.

Estado
Em Pernambuco, a oscilação positiva do PIB estadual deve se manter acima da nacional. As políticas públicas de incentivo vêm permitindo que o Estado sofra os efeitos da crise com menos intensidade em relação a boa parte das outras economias estaduais. Para Tânia Bacelar, “isso se deve aos impactos das políticas estaduais de desenvolvimento e atração de investimentos implementadas nos anos 2000 e que garantiram uma forte expansão e diversificação da matriz econômica local entre a década passada e o início da atual”.

Da Folha de PE