Foto: Rafael Medeiros/ Porto de Suape |
Em Pernambuco, Suape e o Cone já mostram os efeitos da pandemia. Enquanto alguns setores têm queda, em outros a movimentação cresce
A crise provocada pela pandemia da Covid-19 está dividindo o setor de logística. Parte das empresas conseguem ainda atuar de forma normal, mas respeitando os cuidados, enquanto outro lado teme pelos meses que estão por vir por conta das dificuldades de operar e pela queda em outros setores da economia.
Em Pernambuco, equipamentos como o Complexo Portuário de Suape e o Condomínio de Negócios Multimodal (Cone) já sentem impactos diretos em suas operações logística, com aumento e redução em alguns pontos, e já se adaptando para uma nova atuação.
Em Suape, os três primeiros meses do ano foram positivos, com uma movimentação 41% maior em comparação com os mesmos meses do ano passado, totalizando 6.675.954 toneladas. Mas, o diretor de Gestão Portuária do Porto, Paulo Coimbra, destaca que o entusiasmo para 2020 diminui porque para manter o desempenho, seria necessário um bom posicionamento do mercado para atuar. “Suape apresentou o seu melhor primeiro trimestre, uma coisa que víamos com um entusiasmo grande e é claro que não vai manter dessa forma, é algo que depende de aspectos mercadológicos, logística internacional e vamos enfrentar dificuldades em encontrar contêiner, por exemplo. Quando a pandemia se instalou, tivemos uma queda em alguns setores, que ainda não refletiram em números, e algumas decisões de empresas que ainda não é marcante, mas serão”, disse.
Já as cargas de contêiner no Porto, que são mais sensíveis na dinâmica econômica, registraram uma alta de 14% no peso, com 1.420.104 toneladas. O aumento correspondeu a 10% em TEUs (o que equivale a uma unidade com 20 pés), com 121.480 TEUs movimentados em Suape, o que demonstra ainda que Suape conseguiu desempenhar bons números antes da crise se instalar.
Paulo aponta que no Porto a operação segue normalizada, mas cuidados no acesso estão sendo tomados para evitar a contaminação. Um fator que segundo ele pode impactar forte no setor será a paralisação da produção das montadoras de veículos e a diminuição de produção da Petrobras. “Nós tivemos em março um número bom de movimentação de veículos, mas já despencou, tínhamos nos pátios estoque bom, mas as montadoras pararam e vai provocar uma queda. Por outro lado, a Petrobras anunciou de que vão reduzir 9 milhões de barris, é um número significativo. Suape é um porto movimentador de graneis líquidos, isso vai sofrer uma queda seguramente, isso representa 90 dias de operação de uma RNEST”, destacou.
Já no Cone Multimodal a logística ainda funciona em partes. Enquanto parte da operação se mantém de forma ativa e com movimentação até mesmo maior em comparação com período normal e atividades que por conta das medidas protetivas, tiveram a sua atuação também paralisada.
O diretor de negócios Fernando Perez, destaca que atualmente a situação é de uma normalidade, mas sempre respeitando o que é recomendado como medida de segurança para evitar a proliferação do vírus. “Temos clientes que foram impactados por conta das lojas que foram todas fechadas, e consequentemente os centros de distribuição. Outro impacto são os fornecedores de autopeças da Jeep, as operações pararam. Em contrapartida temos outras operações rodando bem mais que em período normal, e com dificuldades maiores, como empresas voltadas a alimentos, higiene, limpeza, bens de consumo, que aumentaram em 60% a movimentação. Na última semana houve uma flexibilização e estamos conseguindo uma operação não normal, porque precisamos de todos os cuidados possíveis, motoristas de outras regiões, fazemos controle na entrada”, explicou.
Perez, aponta que essa crise pode apresentar ao setor uma nova forma de atuação e a valorização do dellivery por parte do consumidor. “Acho que todo momento de crise, sempre traz oportunidades, ganhos de produtividade, de aumento de algum tipo de tecnologia. A interferência na logística é direta, não temos dúvidas que alguns conceitos de operação devem mudar, pontos de concentração, hubs, porque não pode deixar muitas regiões na dependência de um ponto. Isso deve mudar, procedimentos de manuseio de mercadorias, de forma a não proliferar bactérias, fungos, vírus. Para o consumidor final o dellivery chegou pra valer, mesmo quem tinha uma resistência, aprendeu a usar”, contou.
Como uma forma de solução para o problema que pode surgir no setor de logística, o diretor de Suape, Paulo Coimbra, ressalta que uma alternativa seria unificar os modais por região para que nenhum meio se prejudique. “A manutenção do meio rodoviário é fundamental para manter um abastecimento tranquilo. Posso não ter marítima, porque movimenta volumes grandes em uma unidade só, mas temos o rodoviário como uma alternativa. Observamos uma redução no meio marítimo e cabotagem em Suape, mas uma alternativa é colocar o marítimo para funcionar e transportar pra cá, onde aqui a gente possa fazer a distribuição, olhar os modais combinados”, apontou.
Da Folha de PE