Foto: Roberta Jungmann |
José Nivaldo Junior
Da Academia Pernambucana de Letras
Ciência e fé, são como trilhos de trem: correm lado a lado, na mesma direção, mas nunca se encontram ou se cruzam. Como emissoras de rádio AM ou FM. Uma não sintoniza a outra.
A fé é ancorada em certezas e respostas. A ciência se ampara em dúvidas e respostas, que geram certezas, que geram dúvidas, assim por diante.
HISTÓRIA OU CRENÇA
Uma das frases mais polêmicas do meu livro “MAQUIAVEL, O PODER” é a que afirma não ser a existência de Jesus de Nazaré provada historicamente. Não é. Nenhum historiador sério contesta isso. Incluindo os oficiais da Igreja Católica, os do próprio Vaticano. Opiniões de leigos irritados não valem neste debate. O próprio sentido de data móvel, da Semana Santa, demonstra que não lidamos com fato histórico e sim com um padrão emblemático.
PERSONAGEM FANTÁSTICO
A inexistência de prova documentalmente aceita (narrativas sem comprovação são desconsideradas pela História) não significa que Jesus não tenha tido uma vida terrena. Eu, por exemplo, considero que as narrativas sobre ele, contidas nos quatro evangelhos, foram construídas a partir de um extraordinário personagem real.
ACRÉSCIMOS POSTERIORES
A esse personagem inicial, com o tempo, foram se agregando detalhes originados de outras religiões anteriores, principalmente o Mitraísmo. Dessa religião persa foram incorporadas, por exemplo, as narrativas acerca da concepção e nascimento de Jesus. Isso tinha um sentido prático: atrair seguidores de outras crenças para engrossar as fileiras cristãs.
EXEMPLO DO SACRIFÍCIO
O importante da Semana Santa, para cristãos, adeptos de outras religiões, ateus e pessoas não religiosas, é o simbolismo que ela carrega. Alguém que é capaz de sofrer e morrer por uma causa que extrapola a sua pessoa, a sua família, os seus amigos. Por algo que transcende os interesses terrenos e remete a algo profundamente elevado: a crença e a fé na salvação da humanidade. Seja neste ou em outro mundo idealizado. Pessoas que são capazes de dar a vida pela humanidade transcendem o patamar do apenas humano.
PÁSCOA É RESSURREIÇÃO
Vários povos primitivos comemoravam a Páscoa, com nomes diversos. É um ritual ligado, nos países do hemisfério norte, ao fim do inverno e ao início da primavera. Ao renascer da natureza e da esperança. A ressurreição de Jesus é a melhor metáfora para esta ou para qualquer outra vida.
ATUALIDADE DA RESSURREIÇÃO
Neste momento, a ressurreição ganha uma extraordinária força adicional: emparedados por uma peste que parece saída dos piores relatos do Apocalipse, estamos condenados ao confinamento temporário.
Mas vamos persistir na esperança. Nossos lares não são sepulcros, deles vamos sair sobreviventes, renascidos, fortalecidos, para enfrentar as dificuldades que nos esperam pela frente.
FELIZ PÁSCOA DE FÉ E ESPERANÇA PARA TODOS.