83% deles afirmaram ter sofrido impacto em seus negócios, enquanto a média nacional é de 74%. (Foto: Marcelo Sant'Anna) |
Os impactos da crise causada pela pandemia da Covid-19 abalaram e chegam a ameaçar a existência de várias empresas em todo o país. De acordo com recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 67% de representantes da indústria nacional podem deixar de existir nos próximos três meses. Ainda de acordo com o estudo, os empresários do Nordeste são os mais afetados do país: 83% deles afirmaram ter sofrido impacto em seus negócios, enquanto a média nacional é de 74%. As regiões Norte e Centro-Oeste foram as menos impactadas (69%). A pesquisa, realizada entre os dias 15 e 25 de maio por meio do Instituto FSB Pesquisas, ouviu 1.017 donos de empresas em todo o Brasil, distribuídos conforme a participação de cada região no PIB e em todos os segmentos, por porte e setor de atividades.
Além de mais impactados, os nordestinos também são os mais pessimistas quanto ao futuro a curto prazo. Para 87% deles, o cenário para os próximos seis meses é de forte retração. A média nacional dos que acham o mesmo é de 79%. Considerando os próximos dois anos, a avaliação, entretanto, já é mais equânime entre todas as regiões. (52% no Nordeste, 51% no Sul e 49% no Sudeste, por exemplo). O economista João Rogério Alves Filho, sócio-diretor da PPK Consultoria, ressalta o fato de a pesquisa retratar não dados estatísticos, de faturamento ou arrecadação. “É de expectativas e estas não são realmente boas. No mais longo prazo, entretanto, 76% do empresariado acredita que haverá manutenção e expansão do segmento. Se olharmos em um contexto de absoluta pressão não me parece que para este médio prazo seja algo pessimista pois o Nordeste acompanha a média nacional com a diferença de um ou dois pontos, com margem de erro”, explica.
João acredita que, no Nordeste, há uma preocupação maior quanto à sobrevivência a curto prazo pois trata-se de um perfil de participação menos representativo no Brasil em relação às outras regiões. “Isto implica na existência de um número menor de arranjos produtivos, de associações e, em um momento como este, estes são fatores muito importantes”, afirma complementando que o próprio porte das indústrias instaladas na região não as coloca na primeira linha de visão dos agentes do governo federal, BNDES, dentre outros. “Uma indústria de médio ou grande porte no Nordeste é equivalente a uma de pequeno médio porte do Centro Sul. Isto traz dificuldade de acesso a programas, a crédito, enfim. A relação destas empresas com o sistema financeiro é de menor representatividade e o menor em todo o segmento tende a sentir-se mais ameaçado”, afirma.
Regionalmente, o economista analisa que o segmento relacionado à agroindústria é o menos pessimista e que, exatamente por isso, as regiões onde ele é mais representativo no país, como Centro Oeste e Sul, estão liderando no otimismo. Da mesma forma, a indústria frigorífica, mais voltada à exportação, também tem se mostrado assim. “Lembrando que é um nível de otimismo não fantasioso, que tem se mostrado aderente à realidade quando cruzado com dados de março a abril, já lançados”, afirma. A indústria de bens de capital, por outro lado, possui maior pessimismo por ser mais dependente de um rápido aquecimento da economia.
Para ele, circula entre estes dois polos a construção civil, que aguarda manifestações mais claras do governo federal quanto a possíveis medidas anticíclicas. Sobre a situação de Pernambuco deste segmento, que tem se manifestado de forma expressiva, João acredita que a preocupação tem suas razões. “No segundo semestre do ano passado, houve a retomada de crescimento em São Paulo. Quando iria chegar aqui, veio março de 2020. E foi uma grande ducha de agua fria, de modo que o setor não conseguiu sequer provar o gostinho desta retomada”, explica.
De acordo com a pesquisa nacional da CNI, 22% das empresas acreditam que só conseguirão continuar a funcionar por mais um mês e 45% por mais três meses. A advogada Paula Lôbo Naslavsky, especialista na área de reestruturação de empresas e recuperação judicial do escritório Da Fonte, Advogados, afirma que, independente do grau de comprometimento das empresas, o responsável por ela não deve esperar passar a pandemia para fazer seus planejamentos, analisar os impactos que sofreu e quais medidas adotar. “Como a crise é geral, todos têm que tentar negociar com quem têm relação comercial. Os bancos, por exemplo, já estão começando a não judicializar tanto. O que não se deve é esperar que a situação se agrave. Há muitas ferramentas para minimizar danos e retirar a onerosidade excessiva dos contratos”, explica. Em situações mais críticas, em que é necessária a recuperação judicial, há também ferramentas mais úteis e adequadas ao momento. Ela afirma que, por enquanto, ainda não foi verificado um crescimento no número destes casos, o que acontecerá daqui a dois ou três meses. “É normal que isto aconteça. As mais afetadas, buscarão”, explica. Continue lendo, clique AQUI.