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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
A desigualdade de renda aumentou nas metrópoles brasileiras durante a pandemia. Todos os segmentos, dos mais pobres aos mais ricos, viram o rendimento cair. Os pobres, porém, sentiram mais a queda nos ganhos.
Os dados integram o primeiro boletim "Desigualdade nas Metrópoles", que compara dados do segundo trimestre de 2020 com o mesmo período do ano passado, antes da pandemia. O fechamento das atividades para evitar a proliferação da Covid-19 se deu especialmente no período estudado.
O boletim considera a renda individual por média domiciliar e não inclui no cálculo as rendas vindas do auxílio emergencial e outras fontes, como Bolsa Família. Por isso, dá a dimensão do impacto da pandemia na renda cuja fonte é exclusivamente o trabalho. O estudo é de pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), do Observatório das Metrópoles e do Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL).
Marcelo Gomes Ribeiro, pesquisador do Observatório das Metrópoles e da UFRJ, explica que quando uma pessoa perde o emprego é preciso considerar que toda a família é afetada, pois há redução na renda per capita de todo o domicílio.
Como o estudo se estende pelo período da pandemia, os pesquisadores também captaram os efeitos do programa que permitiu cortes de jornadas e salários. Nesse contexto, mesmo quem manteve o emprego pode ter perdido renda.
"Com a perspectiva de manter trabalhadores na ativa sem fechar os postos de trabalho, tivemos políticas de redução de renda", afirma Ribeiro.
O boletim tem como base os dados sobre renda da Pnad do IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referentes aos segundos trimestres de 2020 e 2019.
Os números mostram que, na média das 22 regiões metropolitanas, os 40% mais pobres perderam 32,1% da renda, os 50% intermediários perderam 5,6% e os 10% mais ricos perderam 3,2%.
"Quem está na base está menos protegido: normalmente tem trabalho informal, sem vínculo. Por isso, quando bate a crise, essa camada sente imediatamente o efeito", afirma André Salata, professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-RS.
Na região metropolitana de Florianópolis, por exemplo, os 10% mais ricos ficaram ainda mais ricos, com 24,2% de aumento na renda. O fenômeno também se deu na região metropolitana do Rio de Janeiro, onde os mais ricos tiveram 8,7% de aumento na renda.
"Mesmo em um contexto negativo, na dinâmica de um pais desigual como o Brasil, quem está em cima tem mais condições de se proteger e até aumentar seu rendimento em alguns casos", diz Salata.
O aumento decorre de oportunidades específicas de cada contexto. Um empresário do setor de supermercados, por exemplo, viu a demanda aumentar no seu negócio com o fechamento dos restaurantes.
A metrópole onde os mais pobres perderam mais renda foi em Salvador: queda de 57,4%. "Na região de Salvador, especificamente, e no Nordeste, em geral, há muita informalidade. Isso explica uma queda tão brusca", diz.
Além de observar as variações da renda, o levantamento estima a desigualdade. A medida usada para calcular a desigualdade é o Coeficiente de Gini. Quanto mais esse indicador está próximo de um, maior é a desigualdade –assim, uma alta assinala piora nas condições socioeconômicas.
Segundo as projeções, a média das 22 regiões metropolitanas estudadas mostra que o coeficiente de Gini chegou a 0,640 no segundo trimestre de 2020. No mesmo período de 2019, ele estava em 0,610.
A distância entre topo e base também aumentou, de 0,610 para 0,640. "São necessárias muitas mudanças para se observar alteração no Gini, e a mudança identificada é bastante robusta", diz Salata. "São mudanças acentuadas em espaço curto de tempo, o que revela o efeito extremo e brusco da pandemia e da crise resultante. Vemos uma diferença muito clara [antes e pós-pandemia]."
Na região metropolitana de São Paulo, a diferença entre o topo e a base aumentou de 0,631 no segundo trimestre de 2019 para 0,653 no mesmo período em 2020, durante a pandemia. Na região metropolitana do Rio, a desigualdade subiu de 0,635 para 0,685. Para continuar lendo, clique AQUI!