De acordo com o levantamento, “aproximadamente 20 milhões de pessoas que compõe uma família unipessoal receberão parcelas de R$ 150, outras 16,7 milhões que têm famílias de 2 ou mais pessoas terão direito a parcelas de R$ 250 e 9,3 milhões de mulheres que vivem em famílias nas quais são a única provedora receberão parcelas de R$ 375”. Os números coincidem com as projeções iniciais do Ministério da Cidadania. No entanto, a pasta informou que esses números estão sendo confirmados e serão divulgados posteriormente.
Se nada mudar nessa distribuição, contudo, o auxílio não terá o mesmo impacto financeiro do ano passado, na renda das famílias. “43% das pessoas vão receber R$ 150 e há evidências de que esse valor não compensa as perdas derivadas pela pandemia. É possível perceber isso em diversos cortes, seja por gênero, estado ou raça", contou o pesquisador Lauro Gonzalez, que comparou o rendimento dos brasileiros antes da pandemia com o rendimento atual, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid), para mensurar o efeito do novo auxílio emergencial.
Gonzalez contou, ainda, que o auxílio de R$ 250 consegue compensar as perdas de renda sofrida pelos brasileiros que têm direito a essa parcela, mas tem uma margem extra muito pequena, que pode ser rapidamente consumida se a pandemia de Covid-19 continuar se alastrando pelo país e afetando a renda dos brasileiros. "A depender da piora da pandemia - e é importante lembrar que estamos com números muito ruins de Covid-19 -, esse benefício também pode não ser suficiente para essa compensação", afirmou.
Cesta básica
Especialistas já haviam alertado que os novos valores do auxílio emergencial não garantem a compra da cesta básica, que hoje custa cerca de R$ 591 em Brasília, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Por conta disso, a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) acredita que a fome, que já atingiu 19 milhões de brasileiros no último trimestre do ano passado, pode crescer ainda mais neste ano no Brasil. E a FGV calcula que o auxílio não vai evitar uma queda da atividade econômica neste primeiro semestre do ano. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) reitera que o benefício vai gerar um estímulo econômico menor que o do ano passado.
Segundo a CNC, apenas 31% dos R$ 44 bilhões que serão liberados pelo auxílio emergencial nos próximos quatro meses devem se reverter em consumo. São R$ 12,75 bilhões, o equivalente a 35% dos R$ 103,8 bilhões recebidos pelo comércio no ano passado em decorrência do auxílio emergencial. Economista da CNC, Fábio Bentes explicou que, como é menor desta vez, o auxílio será usado preferencialmente para o consumo essencial e para o pagamento de dívidas. “É baixa a margem para perspectivas de consumo”, afirmou.
"O auxílio reduziu a queda do PIB [Produto Interno Bruto] em 2020, mas terá um efeito menor neste ano, tanto do ponto de vista macro, quanto no rendimento das pessoas. Afinal, o programa terá R$ 44 bilhões. É 15% dos quase R$ 300 bilhões liberados no ano passado. Por isso, é importante avançar com a vacinação contra a Covid-19. Caso contrário, as políticas públicas precisarão ser mais vigorosas", concluiu Gonzalez, lembrando que a imunização deve permitir a volta das atividades econômicas.
Por Correio Braziliense / Foto: Christiano Antonucci/Secom-MT