Essa constatação está em um estudo realizado pela empresa de consultoria EY-Parthenon, que entrevistou pouco mais de mil consumidores brasileiros entre 18 e mais de 65 anos, de todas as classes sociais, em fevereiro deste ano, para entender como o isolamento social imposto pela pandemia obrigou as pessoas a desenvolver um novo comportamento mais voltado para o lar, suas famílias e o próprio bem-estar.
Os brasileiros entrevistados esperam que as modificações impostas pela pandemia, sobretudo à maneira de trabalhar, se tornem permanentes. Metade dos entrevistados querem um trabalho mais flexível, enquanto 44% querem trabalhar de casa com maior frequência. Para os próximos três a cinco anos, 36% dos trabalhadores brasileiros acreditam que usarão videoconferências em vez de reuniões presenciais. Com relação a treinamentos e aulas, 30% dizem que farão mais pela internet.
“Sinto necessidade de ter um trabalho presencial, mas acho que conseguimos mesclar, com as reuniões presenciais sendo substituídas por encontros virtuais. Acredito que dá para equilibrar as duas formas e evitar o baixo desempenho dos funcionários”, opinou.
Comida
Cerca de 69% dos entrevistados responderam, ainda, que estão indo menos vezes a lojas e supermercados. Consequentemente, a forma como essas pessoas buscam alimentação mudou: 77% relataram que ou deixaram de cozinhar ou passaram a comprar comida por aplicativos de celular. A estudante Luana Lima, 19, moradora de Sobradinho, afirma que seu consumo em aplicativos de entrega de comida aumentou com a pandemia.
“Antes, eu costumava comer mais na universidade. Ou, então, levava algum lanche pronto de casa. Hoje, como fico o tempo todo em casa, muitas vezes, por praticidade, acabo pedindo pelo celular. Quando a pandemia acabar, espero poder voltar à minha rotina de antes para economizar e comer melhor”, disse.
A mudança acabou beneficiando alguns restaurantes. Foi o caso do estabelecimento gerido por Mauro Souza, 40, em Águas Claras, que atende exclusivamente por delivery. “O movimento no auge da pandemia estava 30% maior do que hoje, mas a demanda não está caindo, está estabilizada. Mesmo com o fim da pandemia, acredito que as pessoas que já pedem comida vão continuar pedindo, devido à comodidade que tem o delivery”, observou.
Futuro
Segundo o economista-chefe da Valor Investimentos Paulo Duarte, a pandemia acelerou uma alteração no comportamento dos consumidores que já estava em curso com a digitalização. “Quem nunca tinha comprado on-line foi forçado a usar esses meios para conseguir manter o mínimo padrão de consumo, até por uma exigência do momento em que vivemos”, analisou.
O maior desafio, de acordo com ele, está no trabalho, pois empresas e funcionários terão de decidir o que é melhor para ambas as partes. “As pessoas sentiram que o home office traz maior qualidade de vida e não interfere na sua produtividade. As empresas que estão exigindo a volta dos trabalhadores para os escritórios terão de entrar em acordo, pois o modelo híbrido veio para ficar”, comentou.
Do Correio Braziliense / Foto: Ina Fassbender/AFP