“Esses dados mostram a nova realidade de um mercado em que a alta de juros para corrigir a inflação deve ajudar a manter elevado o desemprego estrutural. Essa é uma situação delicada do ponto de vista do orçamento familiar, mas não chega a ser alarmante ainda”, afirmou Fabio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
De acordo com especialistas, os aumentos refletem a elevação da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 7,75% ao ano, mas que pode passar para 9,50% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de dezembro.
Bentes destacou que, apesar de a inadimplência total para a pessoa física ter ficado estável em 3%, a taxa de calotes no crédito de recursos livres nos empréstimos pessoais voltou a crescer, após dois meses de estabilidade, passando de 4,2% para 4,3%, mesmo patamar de novembro de 2020”. “O ideal seria uma taxa de inadimplência em torno de 2%, mas acho que não vamos conseguir voltar a esse patamar tão cedo devido ao endividamento elevado das famílias”, alertou. Conforme os dados do BC, o endividamento das famílias voltou a crescer em agosto após leve recuo em julho, passando de 59,2% para 59,9% da massa salarial ampliada, novo recorde. “Retirando o financiamento imobiliário, esse percentual ainda está acima de 30%, o que acende um alerta”, destacou Bentes.
De acordo com Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o aumento dos custos dos empréstimos para o consumidor e para as empresas era esperado, porque reflete um cenário mais instável da economia e a elevação da taxa Selic, que vem ocorrendo desde março. “A Selic é um dos itens que compõem as taxas de juros cobradas pelo mercado. Os bancos estão repassando os custos superiores de captação”, alertou.
O consumidor vai continuar tendo dificuldade para contrair empréstimos, de acordo com Ribeiro. “As condições de crédito estão piorando desde o começo do ano, e os bancos estão sendo mais seletivos, temendo inadimplência”, afirmou. Segundo ele, os consumidores também estão mais receosos, diante do desemprego e do custo de vida elevados.
Para fugir dos empréstimos cada vez mais caros, o comerciário Júnior Salgado, 40 anos, pesquisou as ofertas da Black Friday a fim de antecipar as compras de Natal. Ele diz que prefere pagar as compras à vista e usar o cartão de crédito como último recurso. “Eu e minha mulher ficamos de olho nos presentes desde o início do mês. Quando chega a Black Friday, fazemos a maior parte das compras de fim de ano, fica bem mais barato”, disse.
Por: Correio Braziliense / Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil