O reajuste já está sendo repassado para a indústria, como a automotiva, linha branca e construção civil. O repasse ao consumidor final e o impacto no bolso vão depender de cada setor, mas devem começar a ser sentidos em maio.
Na construção civil, a alta ainda não foi totalmente repassada, mas, por causa da inflação que o segmento vem enfrentando desde o ano passado e da alta de outros materiais, as construtoras vêm adiando projetos e, nos próximos meses, os imóveis estarão até 8% mais caros, afirma José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic):
— Tem muita construtora guardando projeto na gaveta porque não tem mercado. A inflação da construção chegou a cerca de 30%, sendo o aço responsável por quase metade disso. É muito maior do que a inflação oficial. Por isso as vendas estão caindo.
O IPCA, índice oficial, atingiu 11,3% em março, no acumulado em 12 meses.
Mas o presidente executivo do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Jorge Loureiro, pondera que o repasse não pesa tanto ao consumidor em imóveis e automóveis, por exemplo. Ele cita a quantidade de aço usada em um carro: em torno de 800 quilos, que valem cerca de US$ 1 mil. Se o preço subir 20%, o carro ficará US$ 200 mais caro.
— Não é por isso que a pessoa deixa de comprar. O problema é quando sobe tudo — pontua Loureiro.
Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil, que representa as usinas siderúrgicas, também pondera que o valor dos produtos é estabelecido por meio de uma relação entre fornecedor, cliente e consumidor, e que, no fim, o peso do aço não é tão relevante:
— Qualquer que seja o aumento, o aço tem peso físico, mas no preço o impacto é pequeno.
Loureiro, por sua vez, ressalta que, mesmo as usinas já cobrando 20% a mais pelo material, as fábricas repassam o aumento gradualmente, em torno de 5% a 10%, porque algumas ainda têm estoques:
— O distribuidor consegue segurar o repasse quando há pequenos aumentos. Mas, se continuar como está, sem recuo de preço, no próximos três a quatros meses terão de repassar os 20% ao consumidor final.
A Açovisa compra o aço e depois vende em barra bruta e acabada para as indústrias de autopeças, motores e bélica, entre outras. Giovanni Marques da Costa, gerente de marketing da empresa, concorda que muitas empresas ainda têm estoques com o preço antigo. Segundo ele, o consumidor só vai perceber o aumento de abril a partir do mês que vem.
A indústria de eletroeletrônicos e eletrodomésticos é outra que tem procurado evitar repasses, diz Jorge Nascimento, presidente da Eletros, associação que representa o setor. Mas ele ressalta que o cenário atual, de guerra, câmbio e inflação em alta, é preocupante.
As siderúrgicas ArcelorMittal e Usiminas informaram que não comentam suas políticas de preços. Procurada, a CSN não retornou. A Gerdau não quis se pronunciar.
Por Agência O Globo / Foto: Pexels