A alta da taxa básica de juros do Brasil, a Selic, para 12,75%, anunciada na quarta-feira pelo Banco Central (BC), tem efeitos contrários para quem tem dinheiro para investir e quem precisa de financiamento ou já está endividado.
Se, por um lado, a maior parte das aplicações em renda fixa passa a dar um retorno maior, por outro, o custo do crédito fica mais alto. Em média, desde o início do atual ciclo de alta dos juros, o crédito ficou 8,08% mais caro.
Isso significa que os consumidores que precisarem usar cheque especial ou cartão de crédito numa emergência ou financiar um carro ou uma casa terão que pagar mais aos financiadores por causa dos juros mais altos.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que esse é mesmo o objetivo prático do aumento do juro: reduzir o consumo para frear a alta de preços.
— É normal esperar que o sistema financeiro repasse isso ao consumidor final, já que o objetivo do BC é desacelerar a economia e, com isso, ter uma reversão da inflação lá na frente. O caminho é desestimular o crédito - explica.
Um levantamento feito pelo economista e diretor de pós-graduação do UniAnchieta, Filipe Pires, com base em dados do BC mostra que a taxa média de juros cobrada pelo rotativo do cartão de crédito saltou de 327,04% ao ano em fevereiro de 2021, quando a Selic estava no patamar de 2%, para 355,19% em fevereiro de 2022, quando o juro básico era de 10,75%.
Nesse mesmo período, a taxa do cheque especial acelerou de 125,52% ao ano para 132,6%. O efeito contrário ocorreu, no entanto, com crédito pessoal não consignado, cujo custo caiu de 84,45% para 83,42% ano ano, mas ainda assim é muito alto perto da Selic de 12,75%.
Segundo Pires, a exceção pode ser explicada pela alta concorrência no produto, o qual é oferecido não só pelos bancos tradicionais, mas também pelas fintechs.
E acrescenta:
— Outro fator que explica o crédito pessoal ter ficado mais barato é que, com maior inadimplência, há maior limitação. Ou seja, para reduzir o risco, o banco agora só empresta para quem ele quer e, muitas vezes, usa algum bem como garantia, como carro, casa. Há, até mesmo, empréstimos condicionados ao celular, algo que a maioria das pessoas de classes C e D tem.
Economistas avaliam que os produtos que terão maior alta nas taxa de juros são cartão de crédito e limite de cheque especial, muito usados para o consumo no dia a dia.
Durval Meirelles, professor de Economia da Universidade Veiga de Almeida, teme que os novos valores pressionem ainda mais o orçamento dos endividados e inadimplentes:
— Com a Selic aumentando, todas as taxas de juros pesam muito no bolso. O cartão de crédito pode chegar a 400% ao ano. É muito para um país que possui 60 milhões de CPFs inadimplentes no SPC/SERASA e seis milhões de micro e pequenas empresas devendo a bancos ou fornecedores. Para continuar lendo, clique AQUI! Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil