Com isso, as estimativas do governo para o indicador oficial do custo de vida ultrapassaram o centro da meta de inflação também em 2023, devendo convergir para o objetivo apenas em 2024, segundo o órgão. A meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) deste ano é de 3,50%, já ultrapassada pelo IPCA acumulado de janeiro a abril, de 4,29%. O limite superior dessa meta é de 5% e há estimativas de grandes bancos, como o francês BNP Paribas, já prevendo que o IPCA deste ano fique em 10%, como ocorreu em 2021. Para 2023, a meta de inflação é de 3,25% e o teto, de 4,75%.
Além da surpresa com a alta dos preços dos alimentos e bebidas, um dos vilões da inflação, os constantes aumentos dos combustíveis — acompanhando a alta do petróleo no mercado internacional devido à guerra na Ucrânia — foram alguns dos principais fatores apontados pelos técnicos da equipe econômica para a revisão nos dados de inflação.
Salário mínimo
A SPE também piorou as estimativas de outros dois importantes indicadores de inflação: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e o Índice Geral de Preços — Disponibilidade Interna (IGP-DI). Pelas novas projeções do governo, o INPC, que mede a inflação das famílias mais pobres e corrige o salário mínimo, deverá encerrar 2022 com alta de 8,10%, acima dos 6,70% previstos no relatório anterior, de março. Considerando essa nova estimativa, o piso salarial terá uma correção de R$ 98 sobre o valor atual, de R$ 1.212, podendo passar para R$ 1.310 no próximo ano. Esse valor é superior aos R$ 1.294 previstos pelo governo no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2023, enviado ao Congresso em abril.
Conforme dados do próprio governo no PLDO de 2023, a cada R$ 1 a mais no salário mínimo, as despesas do governo federal aumentam R$ 389,8 milhões. Portanto, para os R$ 16 da diferença com a previsão inicial do piso salarial, será preciso arrumar espaço fiscal para mais R$ 6,3 bilhões em despesas no Orçamento de 2023.
Apesar da piora no cenário inflacionário, que não para de corroer o poder de compra dos consumidores brasileiros, a SPE manteve as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de 1,5%, neste ano, e de 2,5% de 2023 a 2026.
Diante da melhora no ritmo de recuperação do setor de serviços, a SPE elevou a estimativa de avanço do PIB do primeiro trimestre deste ano, passando de 1%, no boletim de março, para 1,4%, em maio. Apesar da melhora, o dado apresenta desaceleração em relação à alta de 1,6% no quatro trimestre de 2021.
O setor de serviços é o único componente da oferta no campo positivo, com alta de 2,3% no trimestre. Já agropecuária e indústria devem encolher 3,5% e 1,5%, pelas estimativas da SPE.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, evitou comentar os dados ruins da inflação, e festejou as previsões do PIB, porque o mercado está melhorando as projeções anteriores. "Todas as revisões estão sendo feitas para cima, como tínhamos previsto no início do ano. Alguns previam recessão e, agora, todo mundo está convergindo para a nossa estimativa. Ainda acho que podemos ter surpresas positivas", disse o ministro, na apresentação do boletim.
De acordo com Guedes, o país está "seguindo com uma recuperação consistente" e com um processo de consolidação fiscal em curso. "O Brasil está com o fiscal forte e bastante melhor do que o desempenho fiscal de todos os países lá de fora", afirmou o ministro. Ele não comentou sobre a piora das previsões de inflação e muito menos fez menção aos riscos fiscais crescentes diante das perspectivas de aumento de gastos do governo, como o reajuste dos servidores e das novas despesas que podem ser criadas pelo Legislativo e que vão exigir cortes no Orçamento deste ano.
Por: Correio Braziliense / Foto: Divulgação/Pixabay