A cesta básica de desjejum do brasileiro encareceu no último ano e disparou de março para cá, um reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia. Além de os dois países serem grandes produtores de trigo, o conflito prejudica indiretamente o abastecimento global de outros grãos. A inflação está acima de 11% em 12 meses, segundo dados divulgados nesta quinta-feira.
Uma pesquisa realizada com exclusividade para O Globo pela Horus Inteligência de Mercado a partir da consulta de 35 milhões de notas fiscais no país mostra que o quilo do pãozinho francês beira R$ 15 (alta de 14% em 12 meses) e o de forma, R$ 23. Já o leite, pelo qual o consumidor pagava uma média de R$ 4,31 o litro há um ano, agora sai por volta de R$ 5,45, alta de 26%.
Para a diarista Maria Celina Pereira da Silva, de 58 anos, que gosta de começar o dia com um café com leite e pão com queijo, estes números são percebidos a cada saída de casa.
— Tudo aumentou, até o ovo que é base. Eu pesquiso e acompanho as promoções para as compras maiores. No dia a dia, vou comprando aqui e ali. O pão, por exemplo, acho mais em conta na padaria.
Não é somente impressão dela. Os ovos brancos que custavam em torno de R$ 7,85, a dúzia, estão na casa dos R$ 9,34. E o café é o item mais caro da primeira refeição do dia: saltou de R$ 22,25 para R$ 43,34, o quilo — quase o dobro, segundo a consultoria, que também acompanhada mensalmente os preços de itens básicos da cesta do brasileiro, parceria com a FGV/Ibre.
Baguete mais cara que carne
Em alguns locais na Zona Sul do Rio, o quilo do pão chega a custar mais que o da carne. Caso de um mercado cujo preço da baguete, de R$ 36,90, supera o da carne moída de Acem (R$ 32,99/kg) e o de filé de peito de frango (25,99/kg). E em uma delicatessen, com o francesinho a R$ 23 o quilo, cada unidade fica torno de R$ 1,30.
Se considerar percentualmente, em 12 meses até maio, o pão subiu quase 16%, o leite 29%, o café uns 68% e o ovo, 18,4%, segundo a inflação oficial do país, o IPCA, calculado pelo IBGE.
Destaque para o pão, que em abril de 2022 registou variação de preço mensal de IPCA de 4,52% — a maior em 16 anos. No acumulado do ano, não se via aumento como o de agora (de 11,71%) desde dezembro de 2015, quando fora de 12,05%.
Ainda que o Brasil importe a maior parte de sua farinha de trigo da América, principalmente da Argentina, não tem como fugir do impacto global.
Luiza Zacharias, diretora de Novos Negócios da Horus, acrescenta que a quebra na safra de grãos como café, soja e milho agravam o cenário já limitado pelo conflito no Leste Europeu. Para continuar lendo, clique AQUI! Foto: Divulgação