Um reflexo dessa situação é a remuneração menor que as mulheres recebem, apesar de qualificações superiores a dos homens, o que limita os benefícios do nível educacional alcançado pelas mulheres brasileiras.
Retorno desigual
Em 2021, a chance de mulheres perderem o trabalho foi quase o dobro da dos homens. Para Hayeska Barroso, doutora em sociologia, o retorno às atividades foi mais difícil para mulheres por causa da não atuação do estado como rede de apoio à mulher. “A fragilidade do estado afeta visceralmente a condição das mulheres mais pobres. Não basta estar no mercado, não é só a carteira assinada ou a vaga garantida. A proteção envolve previdência, saúde e organização familiar”, ressaltou.
“Desde políticas públicas às empresas privadas com ações contra assédio ou qualquer abuso à figura da mulher, instituindo equidade salarial e, principalmente, trazendo mulheres para cargos de decisão. O homem branco cercado de privilégios não vai optar por ter menos poder. Então é necessário termos mulheres nas funções mais altas para mudarmos essa mentalidade”, completou Hayeska.
Para Rócio Barreto, analista Político e diretor da Royal Politics, as mulheres sofrem e são discriminadas não só no mercado de trabalho, mas em todas as instâncias sociais.
“São obrigadas a ser as chefes das famílias responsáveis pela criação dos filhos. As jornadas são maiores, seja considerando somente o trabalho fora de casa, como também a dupla jornada, pois ao chegar em casa precisam cuidar da casa, dos filhos e da alimentação. Por isso as mulheres têm maior dificuldade para conseguir trabalho comparado com os homens”, afirmou Barreto.
Precarização da jornada
A deterioração do mercado de trabalho diminuiu a renda domiciliar do trabalho no Brasil, com os 40% mais vulneráveis da população sendo os mais atingidos. Isso se deve ao cenário inflacionário que piorou a oferta de empregos, principalmente aos mais pobres. Barreto defendeu que a pobreza crônica no país está relacionada à má distribuição de renda acentuada pela pandemia de Covid-19.
“Só vai reduzir a desigualdade social e só vai reduzir a fome quando houver a criação de políticas públicas que ampliem a divisão de renda. Somente com uma melhor distribuição de renda, a gente pode reduzir as desigualdades sociais no mundo e reduzir fome e estados de miséria e de pobreza”, finalizou o diretor da Royal Politics.
Do Correio Braziliense