O volume de serviços prestados no país cresceu 1,1% na passagem de junho para julho, contra uma expectativa de crescimento de 0,6% do mercado. Foi o terceiro aumento mensal consecutivo, o que levou o setor, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a um nível 8,9% superior ao patamar pré-pandemia e 1,8% abaixo do ponto mais alto, atingido em novembro de 2014.
"Essa retomada é significativa, e está ligada aos serviços voltados às empresas, como os de tecnologia da informação e o de transporte de cargas, que alcançaram, em julho, os pontos mais altos das respectivas séries. Então, o que traz o setor de serviços a esse patamar é o dinamismo desses dois segmentos", destacou Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE.
Para Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), os serviços têm se destacado em relação a outros setores da economia. "Basicamente, duas razões explicam esse desempenho melhor: a inflação — que mesmo elevada, não subiu tanto no setor de serviços — e o fim do isolamento social", explicou.
Bentes comentou, ainda, que os próximos três meses devem ser de crescimento moderado, porque as margens do setor já alcançaram a inflação. "A inflação de serviços encostou no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em agosto. Com isso, o setor não deve crescer tanto daqui para frente", observou.
Entretanto, o economista pontuou que, entre as atividades econômicas, o setor do turismo, um dos que mais sofreram durante a pandemia, "é o que tem mais a recuperar ao longo deste ano de 2022". "Revisamos nossa previsão para este ano e estamos projetando uma alta de 5,1%, no faturamento do turismo. Um dos indícios de que esta recuperação tem se dado de forma consistente é a geração de empregos", afirmou Bentes. "Nos sete primeiros meses da pandemia, o setor fechou 470 mil vagas formais de trabalho, e desde o fim de 2020, conseguiu repor 380 mil vagas, ou seja, falta recuperar 90 mil postos de trabalho."
De acordo com o IBGE, o resultado positivo de julho foi disseminado por três das cinco atividades pesquisadas, com destaque para os transportes (2,3%) e informação e comunicação (1,1%), que exerceram as principais influências positivas sobre o índice. O setor de transportes acumulou ganho de 3,9% nos três últimos meses e, em julho, foi influenciado, principalmente, pelos bons resultados de atividades como gestão de portos e terminais e concessionárias de rodovias. O transporte de cargas, que acumula alta de 19,7% desde outubro do ano passado, avançou 1,2% em julho e atingiu o ponto mais alto da série.
O analista da pesquisa, Luiz Almeida, explicou que o destaque alcançado na a gestão de portos e terminais "está relacionado ao escoamento de safra agrícola".
Outra expansão do mês ficou com serviços prestados às famílias (0,6%), que teve o quinto crescimento mensal seguido, com ganho acumulado de 9,7% nesse período. Já o índice de atividades turísticas cresceu 1,5% em julho, após recuo de 1,7% no mês anterior. Mesmo com o avanço, o segmento de turismo ainda se encontra 1,1% abaixo do patamar de fevereiro de 2020.
"Tiveram um bom desempenho em julho os setores de hotéis, restaurantes e transporte aéreo. Além de ser um mês de férias, a diminuição observada no desemprego e o crescimento econômico tendem a impulsionar o turismo de lazer e negócios. Depois desse tempo sem consumir esse tipo de serviço, as pessoas podem estar mais dispostas a viajar", comentou Almeida.
Entretanto, a economista chefe da CM Capital, Carla Argenta afirmou que os dados podem estar superestimados. "Sazonalmente, julho é um período muito bom de serviços prestados às famílias, principalmente aqueles atrelados a hobbies", disse. "Mas precisamos ter cuidado na hora de fazer a leitura desses dados, pois a forma utilizada para dessazonalizar o cálculo leva em conta os movimentos do ano anterior", disse.
Segundo Argenta, o problema é que, em 2021, atravessamos um período de grandes restrições por conta da pandemia, com os bares e restaurantes tendo que fechar as portas, e pacotes turísticos e produtos relacionados a viagens com bastante restrição. "Isso faz com que a variação dessazonalizada mensal, assim como o anualizado, fique, de certa forma, superestimado em relação ao que de fato aconteceu. Por isso, a expectativa é de que, embora esse crescimento continue ao longo dos próximos meses, ele tende a ser amenizado", explicou.
Por: Fernanda Strickland - Correio Braziliense - Foto: Ana Rayssa/CB/D.A Press