"O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", escreveu em nota.
O BC alerta que permanecerá vigilante em relação à eficácia da manutenção dos juros mais elevados por período prolongado para o controle da inflação e afirmou que não "hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado". A decisão do Copom foi unânime.
Em nota, o BC considerou como fatores de risco para elevação da inflação a persistência das pressões inflacionárias globais, a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e um hiato do produto mais estreito. Entre os fatores que podem baixá-la estão uma queda adicional dos preços das commodities internacionais, a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada e a manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023. "O Comitê avalia que a conjuntura, ainda particularmente incerta e volátil, requer serenidade na avaliação dos riscos", escreveu.
Na última reunião, em setembro, o BC encerrou o maior ciclo de alta de juros desde a criação do regime de metas de inflação, em 1999, também votando pela manutenção da Selic em 13,75%. Até então, foram 12 elevações seguidas, em ciclo iniciado em março de 2021.
O economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, pontua que esta decisão reforça a anterior:
— O BC não está amarrado em não subir ou não derrubar a taxa de juros, mas o plano A é a manutenção e não parece ter nada substancial para alterar esse plano.
Para ele, o horizonte relevante da autoridade monetária já está bem mais adiante, visando cumprir a meta de inflação só em 2024, e é por isso que projeta que os juros só vão começar a cair em agosto do ano que vem:
— O fato é que em 2023 o BC vai estar olhando 2024, porque o cenário ainda não está ok, e vai conviver com uma inflação qualitativamente incômoda pela parte de serviço.
Inflação em queda
Desde a última reunião do Copom, o quadro de alívio na inflação está se mantendo. O IPCA, por exemplo, já registrou três deflações seguidas – de julho a setembro, o recuo no preço dos combustíveis puxou o índice para baixo. A prévia da inflação desse mês, com aceleração, acende um alerta, no entanto, já que esse é um item que acelerou.
Ainda assim, o mercado vem reduzindo suas projeções para a inflação em 2022 e 2023, conforme o boletim Focus do BC. A inflação segue acima da meta e fora do intervalo de tolerância fixado para os dois anos, mas num patamar menor.
Do lado internacional, por exemplo, ainda há indicação de forte persistência inflacionária, seguida de uma reação contundente das autoridades monetárias em economias avançadas, como é o caso dos Estados Unidos.
Por Agência O Globo - Foto: Marcelo Casall Jr/Agência Brasil