Também houve queda no número de ocupados, de 1,6%. O trimestre fechou com retração de 1,6 milhão de pessoas no mercado de trabalho frente ao trimestre anterior. Com isso, o nível de ocupação, percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, chegou a 56,4%, queda de 1 ponto percentual na mesma comparação.
A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, explicou que o resultado está relacionado a um movimento sazonal, comum ao início dos anos. Segundo ela, o dado reflete a dispensa dos trabalhadores temporários contratados para as festas de fim de ano, assim como maior procura por novas vagas.
Fernando de Holanda, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV Ibre, acrescenta que a taxa de juros mais alta, usada pelo Banco Central para controlar a inflação, serve como um freio para a atividade econômica e, consequentemente, tem reflexos no mercado de trabalho. Para ele, a tendência de queda de empregos deve se manter ao longo de todo o ano de 2023.
— Para que a política desinflacionária funcione, é necessário ter desaquecimento no mercado de trabalho. Todos os setores vão sofrer — opina Holanda. — Isso já era esperado pelo combate à inflação e porque o primeiro ano de um governo costuma ser de ajuste. Além disso, o ano passado foi atípico, com o governo tentando manter a economia aquecida com vários pacotes para aumentar a chance de reeleição.
Apostando em uma trajetória de lenta elevação do desemprego nos próximos trimestres, Claudia Moreno, economista do C6 Bank, estima que a taxa encerre 2023 perto de 9%. Para 2024, a projeção é que a taxa evolua para 9,5%.
— A gente está vendo uma dinâmica do mercado de trabalho pior, com taxa de participação caindo — comenta. — Tanto o trabalho formal, quanto informal foram afetados. Isso está muito relacionado à desaceleração macroeconômica.
Emprego informal recua e com carteira fica estável
Entre as categorias que mais perderam postos de trabalho no período estão o empregado sem carteira no setor público (-14,6% ou menos 457 mil), o empregado sem carteira assinada no setor privado (-2,6% ou menos 349 mil pessoas) e o trabalhador por conta própria com CNPJ (-4,8% ou menos 330 mil).
A população ocupada em administração pública, saúde e educação apresentou redução de 2,7% na comparação trimestral. A coordenadora da pesquisa, Adriana Beringuy, explica que é comum a dispensa de trabalhadores por contrato ao final do ano, o que reflete nos dados:
— As prefeituras usam muito contratos temporários. Professores, merendeiras, inspetores, assistentes administrativos, por exemplo, são contratados a partir de março, e muitos deles são dispensados no final do ano, em dezembro e janeiro, para serem recontratados no ano seguinte. Isso gera um ciclo na administração pública.
O número de empregados com carteira assinada no setor privado ficou estável após seis trimestres consecutivos de crescimento significativo. O fenômeno pode ser explicado pela queda na atividade industrial, que predominantemente costuma oferecer mais vagas formais em relação a outros setores, como o comércio.
O rendimento médio real foi estimado em R$ 2.853 e ficou estável frente ao trimestre encerrado em novembro. Houve aumento apenas nos setores de alojamento e alimentação (6,0%, ou mais R$ 107) e serviços domésticos (2,6%, ou mais R$ 28). Os outros ficaram estáveis.
A massa de rendimento também ficou estável frente ao trimestre anterior. Ela foi estimada em R$ 275,5 bilhões, crescendo 11,4% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Por Agência O Globo | Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil