Dos gastos que levam os pernambucanos ao endividamento, o cartão de crédito representou 93,7% das dívidas, seguido por carnês (24,8%) e crédito pessoal (6,8%). O atraso médio no pagamento era de 62 dias, comprometendo 30,8% da renda.
“O recente aumento do endividamento e da inadimplência em Pernambuco está diretamente relacionado à maior acessibilidade ao crédito disponibilizada aos consumidores, impulsionada pelo atual cenário de redução das taxas de juros no mercado. Vale ressaltar que esse comportamento não é exclusivo de Pernambuco, mas sim uma tendência nacional. O endividamento é uma ocorrência esperada entre consumidores com menor disponibilidade de renda; no entanto, a preocupação está no avanço da inadimplência, que voltou a crescer após cinco meses de recuos”, apontou o economista da Fecomércio-PE, Rafael Lima.
Conscientização
Com os números preocupantes, é necessário que haja uma conscientização sobre educação financeira de maneira efetiva, além da consolidação de programas e políticas de negociações de dívidas, antes que essa factualidade dê espaço para mais dores de cabeça nos lares das pessoas.
“Há vários fatores que fazem com que esses índices sejam altos, com que tenham mais de 70 milhões de brasileiros que estejam nessa situação. O importante é ter uma estratégia para sair dessa situação e, claro, se esforçar para não voltar para ela. A primeira coisa que as pessoas precisam fazer é consultar o CPF e ver qual é o cenário real. Onde que ela está devendo, qual é a situação da dívida”, destacou Clara Aguiar, especialista em educação financeira da Serasa.
A ideia é entender a origem e o contexto deste saldo devedor para visualizar as pendências e organizar uma estratégia para negociar os débitos. A dica que a especialista dá é priorizar as dívidas negativadas, que não foram quitadas na data de vencimento, resultando no registro do nome do devedor em órgãos de proteção ao crédito.
“A prioridade é que comece pelas dívidas negativadas. Em segundo lugar, buscar aquelas que têm maior incidência de juros, que são justamente de bancos e cartão de crédito. Elas costumam começar pequenas, mas podem se tornar estratosféricas e difíceis de resolver” acrescentou.
Planejamento
Quem já se endividou sabe que chega uma hora que é necessário decidir o que fazer com as dívidas e ignorar o problema não é mais uma opção sábia. Neste momento, o discernimento deve falar mais alto.
Para a autônoma Jayza Fagundes, um problema de saúde causou as dívidas. “Sem poder pagar um plano de saúde, tive despesas médicas muito altas e acabei recorrendo a empréstimos e cartões de crédito, resultando em dívidas que hoje giram em torno de R$ 60 mil. Para reduzir os gastos, precisei cortar algumas despesas, como academia, personal trainer, café da manhã na padaria, restaurantes nos finais de semana e gastos com lazer”, comentou.
Essas mudanças impactaram bastante seu estilo de vida e, também, sua saúde mental. “Eu finjo que estou bem, mas sigo abalada pelos hábitos que tive que abdicar e por ainda continuar nessa situação. Minhas estratégias para reduzir os gastos foram exatamente essas: cortar onde der. Não estou utilizando e nem pretendo utilizar nenhum programa governamental para negociação, apesar de achar que todos os recursos são úteis para sair das dívidas”, acrescentou Jayza.
Educação
Segundo o economista e professor Sandro Prado, a educação financeira é primordial, da mesma forma que a educação alimentar ou a prática de exercícios. “Desde cedo, ela é extremamente importante para se tornar um adulto responsável financeiramente, então muitas pessoas não sabem lidar com dinheiro e isso, sem dúvida alguma, acaba ocasionando muitos problemas, prejudicando sua vida em diversos âmbitos”, relata.
Apesar de muitas pessoas acharem que só dívidas exorbitantes assustam, as pequenas também acabam complicando a vida financeira das pessoas. É o caso da cabeleireira Norma Pimenta, que fez compras em loja de departamento e por eventual descuido, não pagou. O que era uma dívida mínima, acabou se tornando muito grande com os juros aplicados.
“Tive um susto quando percebi a proporção que as contas em atraso tinham tomado. Há pessoas que me orientam esperar um tempo para o nome deixar de ficar negativado automaticamente, mas eu sei que há soluções e acordos para serem feitos e é atrás disso que estou”, salientou Norma.
Acordos
No Brasil, há uma série de instituições que facilitam a vida dos inadimplentes e negociam suas dívidas com descontos e respaldos. A Lei do Superendividamento, por exemplo, prevê a possibilidade de o superendividado negociar sua inadimplência por meio de um acordo extrajudicial de renegociação de dívidas.
Além dessa saída, existem outros programas e ações que estimulam a população a quitarem suas dívidas. O programa Desenrola Brasil, desenvolvido pelo Governo Federal, com o apoio de instituições financeiras e operações como o Feirão Serasa Limpa Nome. A iniciativa, inclusive, está em sua reta final e será encerrada hoje (20).
“É muito importante que as pessoas busquem informações em fontes oficiais, como sites e aplicativos. Tem o aplicativo da Serasa, onde você pode consultar gratuitamente seu CPF, ver quais contas estão pendentes para você e consultar se há desconto. São mais de 500 empresas que oferecem esse abatimento dentro do aplicativo da Serasa. O programa Desenrola é outra saída e disponibiliza até 96% de desconto, dando uma excelente forma do cidadão se restabelecer financeiramente e pagar suas dívidas com um grande desconto”, acrescentou a representante da Serasa, Clara.
Empreender
Além de minimizar os gastos, conseguir gerar una renda extra pode ser uma saída para quem deseja deixar o endividamento. No processo, a pessoa pode acabar descobrindo um talento ou uma habilidade pessoal para empreender. Além disso, uma outra alternativa é se desfazer de itens que não usa mais ou vender produtos como bolos, doces e artesanatos usando a internet ao seu favor.
“A pessoa pode se organizar, fazer vídeos, stories, aproveitando filhos e parentes que tenham bom desempenho na frente das câmeras e comercializar produtos ou serviços para conseguir um dinheiro extra. E, a longo prazo, o melhor investimento, realmente, é a educação. Há uma infinidade de conteúdos gratuitos disponíveis na internet que você pode aprender como se restabelecer financeiramente, como organizar suas finanças, como criar hábitos mais saudáveis para não só ficar livre das dívidas, mas também ter uma vida financeira mais tranquila”, completou Sandro Prado.
Da Folha de Pernambuco | Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco